Segundo a pesquisadora Leni David, a vendedora ambulante foi parte integrante da paisagem brasileira e, principalmente, de cidades como Rio de Janeiro, Salvador e Recife, no passado, embora essa tradição persista nos dias atuais, por ser uma atividade capaz de garantir a subsistência para uma parcela significativa da população de baixa renda, excluída do processo produtivo convencional. Esta vendedora ambulante, no entanto, segundo Pierre Verger,
desenvolveu no Brasil atividades que já lhe eram familiares na África e ele explica também que, a partir de meados do século XVIII os africanos importados para a Bahia e Recife eram originários do golfo do Benin ou da Costa dos Escravos, enquanto que as outras regiões do Brasil continuavam a receber escravos do Congo e de Angola. Segundo esse autor, esse pormenor tem importância fundamental visto que a procedência dos escravos desembarcados na Bahia contribuiu para a originalidade da vida local e para justificar porque a Bahia tem características diferentes de outras cidades brasileiras. Verger alerta ainda para o fato de que é imprescindível conhecer o espaço ocupado pelas mulheres da sociedade iorubá, na África, onde a organização da família nessa etnia é polígama, o que colabora para que a mulher desfrute de maior liberdade, em oposição às ligações monógamas.Estas mulheres são vistas apenas como progenitoras, capazes de preservar a linhagem familiar, não se integrando totalmente à família do marido, fato que lhes confere, também, uma certa independência. Nas sociedades nagô-ioruba, por exemplo, estas mulheres podem circular livremente e participar dos mercados das cidades vizinhas sendo, inclusive, boas comerciantes o que lhes permite amealhar somas consideráveis, até superiores àquelas ganhas por seus cônjuges. Verger acrescenta que no Brasil, existe uma situação análoga entre as mulheres de descendência africana, embora já não haja espaço para a grande família que gira em torno do pai polígamo. São as mulheres que mandam em casa e criam os filhos, geralmente de pais diferentes. E Verger conclui que, “elas vendem nos mercados e nas ruas, alimentos cozidos idênticos aos da África, tais como os acarajés”… explicando que essas mulheres, descendentes dos nagôs preservaram o mesmo espírito de iniciativa do seu país de origem e as mesmas tendências dominadoras, tanto na família como nas suas relações com os outros. Essas observações permitem, em contrapartida, identificar características próprias das “baianas de acarajé” a trabalhadora das ruas da Bahia, que veremos no decorrer desse trabalho.
A venda ambulante de produtos diversos, no entanto, não é uma atividade recente; no passado, era uma atividade característica das escravas e libertas que, segundo Vilhena,era financiada pelos patrões, o que lhes garantia a liberdade de preços e a não interferência de terceiros em seus negócios. A atividade dessas vendedoras remonta, segundo vários pesquisadores à época colonial, quando as escravas de ganho se deslocavam pelas ruas das cidades com o objetivo de vender mercadorias diversas.Kátia de Queirós Mattoso explica que no século XIX a maioria das mulheres brancas não exerciam atividades fora dos limites de suas casas; porém, quando eram obrigadas a reforçar o orçamento familiar, realizavam trabalhos de bordados, costuras e doces para serem vendidos nas ruas pelas ganhadeiras. Estas senhoras, oriundas das classes médias, não se expunham a vender o fruto desse trabalho na rua, delegando essas tarefas às suas cativas, que exercendo essa atividade, conseguiam, por vezes, comprar a própria liberdade, utilizando a quota de lucro que lhes cabia como recompensa do trabalho que executavam. Tânia Gandon, num trabalho sobre a comunidade de Itapuã, recolheu preciosas informações, através da memória coletiva do bairro, sobre as antigas vendedoras de peixes, conhecidas também como ganhadeiras, mostrando a trajetória dessas mulheres, que foram, certamente, as predecessoras das baianas dos dias atuais.
A venda ambulante de produtos diversos, no entanto, não é uma atividade recente; no passado, era uma atividade característica das escravas e libertas que, segundo Vilhena,era financiada pelos patrões, o que lhes garantia a liberdade de preços e a não interferência de terceiros em seus negócios. A atividade dessas vendedoras remonta, segundo vários pesquisadores à época colonial, quando as escravas de ganho se deslocavam pelas ruas das cidades com o objetivo de vender mercadorias diversas.Kátia de Queirós Mattoso explica que no século XIX a maioria das mulheres brancas não exerciam atividades fora dos limites de suas casas; porém, quando eram obrigadas a reforçar o orçamento familiar, realizavam trabalhos de bordados, costuras e doces para serem vendidos nas ruas pelas ganhadeiras. Estas senhoras, oriundas das classes médias, não se expunham a vender o fruto desse trabalho na rua, delegando essas tarefas às suas cativas, que exercendo essa atividade, conseguiam, por vezes, comprar a própria liberdade, utilizando a quota de lucro que lhes cabia como recompensa do trabalho que executavam. Tânia Gandon, num trabalho sobre a comunidade de Itapuã, recolheu preciosas informações, através da memória coletiva do bairro, sobre as antigas vendedoras de peixes, conhecidas também como ganhadeiras, mostrando a trajetória dessas mulheres, que foram, certamente, as predecessoras das baianas dos dias atuais.
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