terça-feira, 27 de outubro de 2009

A indumentária da baiana



O algodão, planta nativa do Brasil, era usado no fabrico de tecidos de baixa qualidade destinados à confecção de roupas para os escravos. Nos engenhos havia uma oficina de roupas, onde as costureiras negras cortavam e costuram peças de algodão ou lã para os trabalhadores do campo. Os escravos que trabalhavam no campo recebiam dois conjuntos de roupas por ano (um na época das festas juninas e outro no Natal) de algodão grosso e resistente, e um manto ou capa de baeta (um tecido de lã grosseiro). Os homens recebiam, também, um chapéu de palha ou barrete (gorro) e, as mulheres, um pano para enrolar na cabeça. Os homens usavam calça e camisa, as mulheres saia e camisa, tudo feito de algodão grosso e resistente, de fabricação nacional. As roupas eram trocadas aos domingos e lavadas uma vez por semana. Expostos ao sol e a chuva, em geral, eles trabalhavam seminus ou vestidos com roupas esfarrapadas.


• Os escravos domésticos eram escolhidos segundo sua aparência. Mucamas, pajens, amas-de-leite, amas-secas, cozinheiras, lavadeiras, cocheiros, copeiros e garotos de recado, recebiam roupas mais finas e eram sempre os mais bem vestidos e bem tratados. Os escravos das casas de pessoas ricas ou de posição usavam antigos librés (uniforme dos criados de casas nobres).


• Turbante - As escravas, em geral, usavam uma longa faixa de tecido enrolada em volta da cabeça, em forma de torço, muito semelhante ao turbante mouro. As escravas das casas de pessoas ricas ou de posição, quando não usavam turbantes, exibiam penteados extravagantes.


• Abadá - Os malês, negros muçulmanos que desembarcaram principalmente na Bahia, trajavam-se em público como os demais escravos e, para se reconhecerem, usavam anéis de metal branco feitos de ferro ou prata. Mas, nas orações e outros rituais de cunho religioso, vestiam uma espécie de camisolão branco chamado abadá. Na cabeça usavam um barrete (pequeno gorro) branco. Atualmente, a roupa branca (calça e camisa) ou só a calça do capoeirista, também são chamados de abadá. E o camisolão foi adotado por blocos do carnaval baiano.


• Baiana - Na Bahia, com suas roupas vistosas, turbantes (torços), panos da costa, batas (blusa branca comprida e solta), saias rodadas, pulseiras e colares na cor do seu orixá, as negras de ganho criaram um tipo. O traje que costumamos chamar de baiano, reflete a influência africana no Brasil. O turbante e os balangandãs indicam elementos da cultura árabe do norte da África. Em nossa cidade, no dia 25 de novembro, dia da Baiana, tem missa na Igreja de N. Sra. do Rosário dos Pretos e manifestações culturais no Memorial das Baianas.


• Balangandã - As pencas de balangandãs integraram as roupas tradicionais das negras baianas do século XIX. Balangandã é o ornamento ou amuleto, em forma de figa, fruta, medalha, moeda, chave ou dente de animal, pendente de argola, broche ou pulseira de prata, usado pelas baianas em dias festivos. Figas e dentes são usados como amuletos para combater o mau-olhado. A figa é um amuleto em forma de mão fechada, com o polegar entre o indicador e o dedo grande, usado como ornamento pessoal, da casa ou estabelecimento comercial.


• Pano da costa - Na África, o pano da costa era apenas um complemento da vestimenta das mulheres negras, e não tinha conotações religiosas. A partir do século XIX, no Brasil, é que começou a ter ligação com as celebrações do candomblé. Na África, é denominado alaká ou pano de alaká. No Brasil, ficou conhecido como pano da costa porque vinha da Costa do Marfim (África) e também por ser usado nas costas. Os primeiros panos da costa vieram no corpo das escravas, que não tinham roupa e eram vendidas enroladas no pano. Depois, os panos foram tecidos aqui mesmo por escravos ou por seus descendentes, em teares manuais e rústicos vindos para o Brasil no século XVIII. Tecido em tear manual, o pano da costa é formado por tiras de dois metros de comprimento cada uma, com largura variando entre 10 a 15 centímetros. As tiras são depois costuradas uma a uma. Branco não é a cor predominante no pano da costa que, geralmente, é listrado ou bordado em alto-relevo e colorido com padronagens variadas dependendo do orixá de cada nação. Os filhos de santo usam o alaká enrolado no tronco. As mães escravas traziam durante as horas de trabalho seus bebês escanchados (com as pernas em volta da cintura) às costas e presos por um pano.

2 comentários: