sábado, 31 de outubro de 2009

Cultura Africana em solo brasileiro: Candomblé

Candomblé
Mãe Senhora _Maria Bibiana do Espírito Santo


Mãe Menininha do Gantois_Maria Escolástica da Conceição Nazaré


Mãe Stella de Oxóssi _Maria Stella de Azevedo Santos


Mãe Aninha _Eugênia Ana dos Santos fundadora do terreiro de candomblé Ilê Axé Opô Afonjá,

Histórico

Em 1830, algumas mulheres negras originárias de Ketu, na Nigéria, e pertencentes a irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte, reuniram-se para estabelecer uma forma de culto que preservasse as tradições africanas aqui, no Brasil.Segundo documentos históricos da época, esta reunião aconteceu na antiga Ladeira do Bercô; hoje, Rua Visconde de Itaparica, próximo a Igreja da Barroquinha na cidade de São Salvador - Estado da Bahia.Desta reunião, que era formada por várias mulheres, conforme relatei anteriormente, uma mulher ajudada por Baba-Asiká, um ilustre africano da época, se destacou: - Íyànàssó Kalá ou Oká, cujo o òrúnkó no orisá era Íyàmagbó-Olódùmarè.Mas, o motivo principal desta reunião era estabelecer um culto africanista no Brasil, pois viram essas mulheres, que se alguma coisa não fosse feita aos seus irmãos negros e descendentes, nada teriam para preservar o "culto de orisá", já que os negros que aqui chegavam eram batizados na Igreja Católica e obrigados a praticarem assim a religião católica.Porém, como praticar um culto de origem tribal, em uma terra distante de sua ìyá ìlú àiyé èmí, ou a mãe pátria terra da vida, como era chamada a África, pelos antigos africanos?Primeiro, tentaram fazer uma fusão de várias mitologias, dogmas e liturgias africanas. Este culto, no Brasil, teria que ser similar ao culto praticado na África, em que o principal quesito para se ingressar em seus mistérios seria a iniciação. Enquanto na África a iniciação é feita muitas vezes em plena floresta, no Brasil foi estabelecida uma mini-África, ou seja, a casa de culto teria todos os orisás africanos juntos. Ao contrário da África, onde cada orisá está ligado a uma aldeia, ou cidade por exemplo: Sangô em Oyó, Osun em Ijesá e Ijebu e assim por diante.
A ORIGEM DO NOME CANDOMBLÉ
Este culto da forma como é aqui praticado e chamado de Candomblé, não existe na África. O que existe lá é o que chamo de culto à orisá, ou seja, cada região africana cultua um orisá e só inicia elegun ou pessoa daquele orisá. Portanto, a palavra Candomblé foi uma forma de denominar as reuniões feitas pelos escravos, para cultuar seus deuses, porque também era comum chamar de Candomblé toda festa ou reunião de negros no Brasil. Por esse motivo, antigos Babalorisás e Iyalorisás evitavam chamar o "culto dos orisás" de Candomblé. Eles não queriam com isso serem confundidos com estas festas. Mas, com o passar do tempo a palavra Candomblé foi aceita e passou a definir um conjunto de cultos vindo de diversas regiões africanas. A palavra Candomblé possui 2 (dois) significados entre os pesquisadores: Candomblé seria uma modificação fonética de Candonbé, um tipo de atabaque usado pelos negros de Angola; ou ainda, viria de Candonbidé, que quer dizer ato de louvar, pedir por alguém ou por alguma coisa.
NAÇÕES
Como forma complementar de culto, a palavra Candomblé passou a definir o modelo de cada tribo ou região africana, conforme a seguir:
Candomblé da Nação Ketu
Candomblé da Nação Jeje
Candomblé da Nação Angola
Candomblé da Nação Congo
Candomblé da Nação Muxicongo
A palavra Nação entra aí não para definir uma nação política, pois Nação Jeje não existia em termos políticos. O que é chamado de Nação Jeje é o Candomblé formado pelos povos vindos da região do Dahomé e formado pelos povos mahin. Os grupos que falavam a língua yorubá entre eles os de Oyó, Abeokuta, Ijesá, Ebá e Benin vieram constituir uma forma de culto denominada de Candomblé da Nação Ketu. Ketu era uma cidade igual as demais, mas no Brasil passou a designar o culto de Candomblé da Nação Ketu ou Alaketu. Esses yorubás, quando guerriaram com os povos Jejes e perderam a batalha, se tornaram escravos desses povos, sendo posteriormente vendidos ao Brasil. Quando os yorubás chegaram naquela região sofridos e maltratados, foram chamados pelos fons de ànagô, que quer dizer na língua fon piolhentos, sujos entre outras coisas. A palavra com o tempo se modificou e ficou nàgó e passou a ser aceita pelos povos yorubás no Brasil, para definir as suas origens e uma forma de culto. Na verdade, não existe nenhuma nação política denominada nàgó. No Brasil, a palavra nàgó passou a denominar os Candomblés também de Xamba da região norte, mais conhecido como Sangô do Nordeste. Os Candomblés da Bahia e do Rio de Janeiro passaram a ser chamados de Nação Ketu com raízes yorubás. Porém, existem variações de Nações, por exemplo, Candomblé da Nação Efan e Candomblé da Nação Ijesá. Efan é uma cidade da região de Ilesá próxima a Osobô e ao rio Osun. Ijesá não é uma nação política. Ijesá é o nome dado às pessoas que nascem ou vivem na região de Ilesá, que caracteriza a Nação Ijesá no Brasil é a posição que desfruta Osun como a rainha dessa nação. Da mesma forma como existe uma variação no Ketu, há também no Jeje, como por exemplo, Jeje Mahin. Mahin era uma tribo que existia próximo à cidade de Ketu. Os Candomblés da Nação Angola e Congo foram desenvolvidos no Brasil com a chegada desses africanos vindos de Angola e Congo. A partir de Maria Néném e depois os Candomblés de Mansu Bunduquemqué do falecido Bernardino Bate-folha e Bam Dan Guaíne muitas formas surgiram seguindo tradições de cidades como Casanje, Munjolo, Cabinda, Muxicongo e outras. Nesse estudo sobre Nações de Candomblé, poderia relatar sobre outras formas de Candomblé, como por exemplo, Nàgó-vodun que é uma fusão de costumes yorubás e Jeje, e o Alaketu de sua atual dirigente Olga de Alaketu. Alaketu não é uma nação específica, mas sim uma Nação yorubá com a origem na mesma região de Ketu, cuja sua história no Brasil soma-se mais de 350 (trezentos e cinquenta) anos ao tempo dos ancestrais da casa: Otampé, Ojaró e Odé Akobí. A verdade é que o culto nigeriano de orixá, chamado de Candomblé no Brasil, foi organizado por mulheres para mulheres. Antigamente, nas primeiras casas de Candomblé, os homens não entravam na roda de dança para os orixás. Mesmo os que tornavam-se Babalorixás tinham uma conduta diferente quanto a roda de dança. Desta forma, a participação dos homens era puramente circunstancial. Daí ter-se que se inserir no culto vários cargos para homens, como por exemplo, os cargos de ogans.Hoje a palavra Candomblé no Brasil define no Brasil o que chamamos de Culto Afro-Brasileiro.

Sugestões para leitura:Temática Mulheres Negras


Mulheres negras do Brasil

O livro, publicado em parceria com as editoras Senac Nacional e Senac São Paulo, aborda as incontáveis experiências das mulheres negras do Brasil e expressa o compromisso do Senac com a promoção de uma sociedade mais justa e equânime, por meio de uma ação educacional afirmativa que privilegie a diversidade e a inclusão. A obra reúne centenas de imagens que testemunham a pluralidade de cenários e personagens, nos quais rostos, corpos, jeitos, gingados, crenças revelam a força do universo feminino negro, num reconhecimento da contribuição dessas mulheres para a riqueza do país, que se traduz numa passo significativo para a superação de sua invibilidade.O livro aborda a história das mulheres negras brasileiras, desde sua chegada ao país até os dias atuais, e ajuda a construir um novo olhar sobre o passado e a superar a invisibilidade das mulheres negras, levando ao reconhecimento de suas contribuições na formação de nossa identidade. De acordo com os autores, com exceção dos escritos sobre o sistema escravocrata e algumas alusões ao mito Chica da Silva, não se encontram referências e informações detalhadas sobre as mulheres negras em nossos currículos escolares, museus, livros didáticos e narrativas oficiais. Autores Schuma Schumaher e Érico Vital


Mulher Negra na Bahia no século XIX

O livro é resultado de uma dissertação de mestrado na qual se abordou vários aspectos das mulheres negras na sociedade baiana e tendo em vista a ausência de estudos sistemáticos nessa área, o surgimento da obra é de relevante importância ao estudar as questões sobre o cotidiano das mulheres negras no período escravista do século XIX. E ainda, não trata apenas da mulher negra, mas de todas as populações negras no Brasil, através da descrição das lutas, conflitos e negociações que mulheres negras, mestiças e pobres engendraram na Bahia do século XIX para conquistar e depois, manter a sua liberdade e inserção numa sociedade racista e machista.

A Autora:

Cecília Conceição Moreira Soares é historiadora formada pela Universidade Federal da Bahia e doutoranda em Antropologia pela Universidade Federal de Pernambuco.
Atualmente, é Professora da Universidade Estadual de Feira de Santana - Bahia (UEFS) e da Universidade Católica de Salvador. Desenvolve pesquisas sobre a mulher negra na Bahia: Gênero, Memória, Religiosidade Afro-brasileira e Identidade. É membro do Núcleo de Estudos sobre a mulher Mulieribus/UEFS e do Núcleo Cultura, Poder e Memória/UCSAL.

Filme com temática afro brasileira em cartaz :Besouro

O Filme de João Daniel Tikhomiroff Besouro foi um dos pré selecionados a concorrer ao Oscar de melhor produção estrangeira,é o primeiro filme nacional de ação sobre a capoeira , com direito a efeitos e coreografias no estilo o Tigre e o Dragão .O filme conta a história do mitico mestre baiano de capoeira Besouro Mangangá , tem trilha sonora assinada por Naná Vasconcelos e música tema de Gilberto Gil. Confere o trailler do filme no endereço : http://www.besouroofilme.com.br/

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Joalheria afro brasileira

Voltamos com mais informações sobre essa cultura mãe que “invadiu” a Moda brasileira. Ao resgatar a estética da mulher negra brasileira através de suas jóias e roupas considera-se a possibilidade de que muitas referências sobre a vida e os costumes dessas mulheres podem ser conhecidas através da moda.Vamos conhecer um pouco mais.

Brincos
Um dos mais tradicionais é o chamado “pitanga”. Sua forma lembra essa fruta. Pode ser composto por búzio, coral, âmbar, ágata e ao redor ouro ou prata.
Os búzios também são muito usados nessa peça. Podem estar em argolas ou adornados de ouro ou prata ao seu redor.

Os búzios já eram usados por povos do Neolítico, como amuleto de proteção. Também foram muito apreciados por diversas tribos indígenas. Já foram empregados como moeda por longo tempo no Brasil. É um elemento de opostos, podem ser temidos e desejados ao mesmo tempo. Podem trazer o insucesso ou a sorte.

Nas religiões de origem africana os sentidos convivem em harmonia com o sagrado. Movimentos, gestos, formas, cores, sabores, odores e indumentária são componentes fundamentais nos diversos rituais. Não há distanciamento entre o divino e o humano como em diversas outras religiões.

Pulseiras
São bem variadas. O material pode ser apenas metal, latão, cobre, ferro, chumbo, prata, bronze. Podem ser vistas também em contas, sementes, couro combinado a outros materiais entre outros.

Bastante conhecidos são os chamados Punhos ou Copos. Com filigranas em ouro e prata.

Nos tornozelos argolas de bronze, ferro, cobre. Muitas vezes têm guizos dourados ou prateados que emitem sons ao andar ou dançar. Afastam maus espíritos que possam estar no caminho de quem se locomove.

Balangandãs
Diversas peças penduradas em um tipo de argola decorada. Cada peça é um amuleto. Seu nome se deve ao som que emitem quando em movimento. A origem conta que eram usados na cintura das negras em dias de festa, como adorno e também para afugentar mau-olhado. Há uma crença de que eram usados nessa região do corpo para atrair a fertilidade.

Negras que trabalhavam nas ruas usavam-nos numa determinada ordem sequencial. Cada peça com seu significado. Eram sacralizadas nos terreiros antes do uso. Protegiam o dinheiro ganho. Podiam conter de 20 a 50 objetos.

Talvez daí tenha surgido o costume do brasileiro em sempre “carregar” consigo, junto ao corpo, uma jóia ou adorno qualquer, como forma de proteção mágica ou religiosa.

Mas o interessante é que nem todos os objetos contidos na penca de Balangandãs são de origem africana ou afro-brasileira. Alguns deles são símbolos cristãos adaptados para a cultura africana.

Fato é que a miscigenação de raças e crenças não engrandece apenas ao homem, mas também à diversidade de peças com que se adornam. A boa convivência fazendo bonito por dentro e por fora!

Bibliografia

Jóias de Axé - A A Joalheria Afro-brasileira
Raul Lody - Editora Bertrand Brasil

Dicionário do Folclore Brasileiro
Luís da Câmara Cascudo - Editora Global

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Balangandãs, barangandãs, berenguendéns: misticismo em adorno

Penca de balangandã
Jóia Escrava
O Balangandã é um objeto de significado ritual religioso afrodescendente, confeccionado em prata e outros materiais encastoados desse metal. Os balangandãs são frutas, figas, moedas, contas de louça, dentes de animais, reunidos em uma peça de prata chamada nave. As pencas de balangandãs integraram as roupas tradicionais de crioula na Bahia do século XIX.
Palavra de origem onomatopaica sugerido pelo chocalhar dos enfeites, Luís Câmara Cascudo nos informa que Beaurepaire Rohan já o registrara no seu Dicionário de vocábulos brasileiros, e Gilberto Freire, em seu Casa grande e senzala, fala que, ao tempo da escravatura, segundo Agostinho Marques Perdigão Malheiro, vestiam-se nossas senhoras à baiana, com tetéias, barangandãs, corações, cavalinhos, cachorrinhos e correntes de ouro.
Alguns historiadores indicam seu surgimento na Bahia. São miniaturas de objetos, sinais e símbolos originalmente confeccionados em metal, normalmente ouro ou prata. Entre eles encontramos a figa, espada, animais, búzios e frutas, reunidos em uma argola também metálica. Seu nome, Balangandã, imita o som que produziam quando eram agitados pelos movimentos do corpo de quem os usava.
Conheça os amuletos da penca de Balangandãs original, usada pelas negras:
· Corrente: símbolo da escravidão. afasta mau olhado e doenças.
· Pão de Angola: símbolo da longevidade.
· Pomba: símbolo dos santos martires e devoção cristã.
· Romã: símbolo do gênero humano e fecundidade.
· Ferradura: símbolo da felicidade e sorte.
· Cabaça: Cosme e Damião - Usado para guardar água pelos escravos.
· Sol: Oxumaré - Deus do arco-íris e chuvas.
· Lua, Arco e Flexa: Oxóssi - Deus das florestas e da caça, São Jorge.
. Caranguejo: Omolú - Deus do Sofrimento.
· Espada: Iansã - Deusa dos raios, ventos e tempestades.
· Caju ou Machado duplo: Xangô - Deus do raio, trovão, fogo e justiça.
· Peixe: Yemanjá - Deusa das águas salgadas.
· Cajado: Oxalá - Deus do ar,céu, rios e montanhas.
· Uvas ou Leque: Oxum - Deus das águas doces, fontes e cachoeiras.

Negras escravas os usavam amarrados à cintura em dias de festa.
Acredita-se que negros vindos da região do Islã foram os responsáveis pela produção desses ornamentos, eles conheciam técnicas de fundição e trabalho dos metais. Escravos vindos dessas regiões chegaram em grandes quantidades à Bahia.
Diz-se que os Balangandãs afastam o mau-olhado e forças negativas.

A indumentária da baiana



O algodão, planta nativa do Brasil, era usado no fabrico de tecidos de baixa qualidade destinados à confecção de roupas para os escravos. Nos engenhos havia uma oficina de roupas, onde as costureiras negras cortavam e costuram peças de algodão ou lã para os trabalhadores do campo. Os escravos que trabalhavam no campo recebiam dois conjuntos de roupas por ano (um na época das festas juninas e outro no Natal) de algodão grosso e resistente, e um manto ou capa de baeta (um tecido de lã grosseiro). Os homens recebiam, também, um chapéu de palha ou barrete (gorro) e, as mulheres, um pano para enrolar na cabeça. Os homens usavam calça e camisa, as mulheres saia e camisa, tudo feito de algodão grosso e resistente, de fabricação nacional. As roupas eram trocadas aos domingos e lavadas uma vez por semana. Expostos ao sol e a chuva, em geral, eles trabalhavam seminus ou vestidos com roupas esfarrapadas.


• Os escravos domésticos eram escolhidos segundo sua aparência. Mucamas, pajens, amas-de-leite, amas-secas, cozinheiras, lavadeiras, cocheiros, copeiros e garotos de recado, recebiam roupas mais finas e eram sempre os mais bem vestidos e bem tratados. Os escravos das casas de pessoas ricas ou de posição usavam antigos librés (uniforme dos criados de casas nobres).


• Turbante - As escravas, em geral, usavam uma longa faixa de tecido enrolada em volta da cabeça, em forma de torço, muito semelhante ao turbante mouro. As escravas das casas de pessoas ricas ou de posição, quando não usavam turbantes, exibiam penteados extravagantes.


• Abadá - Os malês, negros muçulmanos que desembarcaram principalmente na Bahia, trajavam-se em público como os demais escravos e, para se reconhecerem, usavam anéis de metal branco feitos de ferro ou prata. Mas, nas orações e outros rituais de cunho religioso, vestiam uma espécie de camisolão branco chamado abadá. Na cabeça usavam um barrete (pequeno gorro) branco. Atualmente, a roupa branca (calça e camisa) ou só a calça do capoeirista, também são chamados de abadá. E o camisolão foi adotado por blocos do carnaval baiano.


• Baiana - Na Bahia, com suas roupas vistosas, turbantes (torços), panos da costa, batas (blusa branca comprida e solta), saias rodadas, pulseiras e colares na cor do seu orixá, as negras de ganho criaram um tipo. O traje que costumamos chamar de baiano, reflete a influência africana no Brasil. O turbante e os balangandãs indicam elementos da cultura árabe do norte da África. Em nossa cidade, no dia 25 de novembro, dia da Baiana, tem missa na Igreja de N. Sra. do Rosário dos Pretos e manifestações culturais no Memorial das Baianas.


• Balangandã - As pencas de balangandãs integraram as roupas tradicionais das negras baianas do século XIX. Balangandã é o ornamento ou amuleto, em forma de figa, fruta, medalha, moeda, chave ou dente de animal, pendente de argola, broche ou pulseira de prata, usado pelas baianas em dias festivos. Figas e dentes são usados como amuletos para combater o mau-olhado. A figa é um amuleto em forma de mão fechada, com o polegar entre o indicador e o dedo grande, usado como ornamento pessoal, da casa ou estabelecimento comercial.


• Pano da costa - Na África, o pano da costa era apenas um complemento da vestimenta das mulheres negras, e não tinha conotações religiosas. A partir do século XIX, no Brasil, é que começou a ter ligação com as celebrações do candomblé. Na África, é denominado alaká ou pano de alaká. No Brasil, ficou conhecido como pano da costa porque vinha da Costa do Marfim (África) e também por ser usado nas costas. Os primeiros panos da costa vieram no corpo das escravas, que não tinham roupa e eram vendidas enroladas no pano. Depois, os panos foram tecidos aqui mesmo por escravos ou por seus descendentes, em teares manuais e rústicos vindos para o Brasil no século XVIII. Tecido em tear manual, o pano da costa é formado por tiras de dois metros de comprimento cada uma, com largura variando entre 10 a 15 centímetros. As tiras são depois costuradas uma a uma. Branco não é a cor predominante no pano da costa que, geralmente, é listrado ou bordado em alto-relevo e colorido com padronagens variadas dependendo do orixá de cada nação. Os filhos de santo usam o alaká enrolado no tronco. As mães escravas traziam durante as horas de trabalho seus bebês escanchados (com as pernas em volta da cintura) às costas e presos por um pano.

Modos de vestir da baiana


Percurso identitário da baiana

desenvolveu no Brasil atividades que já lhe eram familiares na África e ele explica também que, a partir de meados do século XVIII os africanos importados para a Bahia e Recife eram originários do golfo do Benin ou da Costa dos Escravos, enquanto que as outras regiões do Brasil continuavam a receber escravos do Congo e de Angola. Segundo esse autor, esse pormenor tem importância fundamental visto que a procedência dos escravos desembarcados na Bahia contribuiu para a originalidade da vida local e para justificar porque a Bahia tem características diferentes de outras cidades brasileiras. Verger alerta ainda para o fato de que é imprescindível conhecer o espaço ocupado pelas mulheres da sociedade iorubá, na África, onde a organização da família nessa etnia é polígama, o que colabora para que a mulher desfrute de maior liberdade, em oposição às ligações monógamas.Estas mulheres são vistas apenas como progenitoras, capazes de preservar a linhagem familiar, não se integrando totalmente à família do marido, fato que lhes confere, também, uma certa independência. Nas sociedades nagô-ioruba, por exemplo, estas mulheres podem circular livremente e participar dos mercados das cidades vizinhas sendo, inclusive, boas comerciantes o que lhes permite amealhar somas consideráveis, até superiores àquelas ganhas por seus cônjuges. Verger acrescenta que no Brasil, existe uma situação análoga entre as mulheres de descendência africana, embora já não haja espaço para a grande família que gira em torno do pai polígamo. São as mulheres que mandam em casa e criam os filhos, geralmente de pais diferentes. E Verger conclui que, “elas vendem nos mercados e nas ruas, alimentos cozidos idênticos aos da África, tais como os acarajés”… explicando que essas mulheres, descendentes dos nagôs preservaram o mesmo espírito de iniciativa do seu país de origem e as mesmas tendências dominadoras, tanto na família como nas suas relações com os outros. Essas observações permitem, em contrapartida, identificar características próprias das “baianas de acarajé” a trabalhadora das ruas da Bahia, que veremos no decorrer desse trabalho.
A venda ambulante de produtos diversos, no entanto, não é uma atividade recente; no passado, era uma atividade característica das escravas e libertas que, segundo Vilhena,
era financiada pelos patrões, o que lhes garantia a liberdade de preços e a não interferência de terceiros em seus negócios. A atividade dessas vendedoras remonta, segundo vários pesquisadores à época colonial, quando as escravas de ganho se deslocavam pelas ruas das cidades com o objetivo de vender mercadorias diversas.Kátia de Queirós Mattoso explica que no século XIX a maioria das mulheres brancas não exerciam atividades fora dos limites de suas casas; porém, quando eram obrigadas a reforçar o orçamento familiar, realizavam trabalhos de bordados, costuras e doces para serem vendidos nas ruas pelas ganhadeiras. Estas senhoras, oriundas das classes médias, não se expunham a vender o fruto desse trabalho na rua, delegando essas tarefas às suas cativas, que exercendo essa atividade, conseguiam, por vezes, comprar a própria liberdade, utilizando a quota de lucro que lhes cabia como recompensa do trabalho que executavam. Tânia Gandon, num trabalho sobre a comunidade de Itapuã, recolheu preciosas informações, através da memória coletiva do bairro, sobre as antigas vendedoras de peixes, conhecidas também como ganhadeiras, mostrando a trajetória dessas mulheres, que foram, certamente, as predecessoras das baianas dos dias atuais.

A Moda das mulheres negras

A Moda das mulheres negras


Com a chegada da corte e a abertura dos portos, em 1808, as brasileiras foram apresentadas à moda européia. O país passou a receber uma quantidade imensa de produtos do velho continente, como tecidos, leques, sapatos, jóias, chapéus, luvas, broches e bolsas. Paralelamente, a vida social ganhou novos ares com as inúmeras festas e cerimônias promovidas pela corte.
Visual renovado
ESCRAVAS
Com a abertura dos portos, o grupo de escravas comerciantes - que já existia - ganhou força. Muitas negras passavam o dia pelas ruas, vendendo produtos. A roupa delas era a fusão de heranças africanas com o modismo europeu. Usavam objetos mágicos e amuletos sobre o corpo, para atrair dinheiro e se defender de inimigos. As roupas eram de tecidos amarrados e sobreposições à moda africana ou então saias, blusas e vestidos dados pela patroa, mas sempre de qualidade inferior. Como parte do ganho dessas escravas ficava com elas, muitas compravam jóias - que mais tarde podiam ser trocadas pela liberdade.

Já as negras que trabalhavam em casa, como domésticas, serviam como uma espécie de vitrine da condição social de seu dono. Quanto mais elegantes e adornadas fossem as escravas, mais poderoso se mostrava o senhor. Na hora de sair, vestiam-se de forma muito semelhante às brancas. Essas escravas herdavam jóias e vestidos das patroas.

O traje típico da Baiana

Penca de balangandãs em prata com 24 elementos e corrente. Bahia, séc. XIX. turbante e bata rendada bata rendada Penca de balangandãs desmontada. Bahia, séc. XIX. Uma crioula da Bahia. J. Melo editor. Fotografia (cartão postal), 1904-1915
É preciso ser baiana para saber usar uma roupa assim! Quanta pompa no andar dengoso e cadenciado... As “baianas” atuais descendentes de africanos (das nações ioruba, nagô, mina, fula, haussá) são as que mais se esmeram no trajar. As nagô, cuja presença maior se nota nos candomblés, são baixas e gordas. Usam cores vivas, berrantes. Saia ampla toda estampada. A baiana-mulçumana (do Sudão da África), alta e esguia, usa o traje branco imaculado. Às vezes, no ombro um “pano da Costa” preto (pano vindo da Costa da África). O traje típico é assim: saia rodada, com muitas anáguas rendadas, engomadas. Bata (blusa de rendas) solta. Pano da Costa, como um xale, sobre o ombro ou turbante. Chinelas ou sapatos de salto baixo. E o que mais? Muitos e muitos enfeites: pulseiras, brincos de ouro, prata, coral. Algumas nos dias de festa, usam uma penca de balangandãs na cintura. Imagine tudo isso e ainda todo o encanto que a baiana tem...

desenhos de Ivan Wasth Rodrigues

A Imagem da baiana : o que é que a baiana tem ?


O que é que a baiana tem?
Tem torço de seda, tem!
Tem brincos de ouro, tem!
Corrente de ouro, tem!
Tem pano-da-costa, tem!
Tem bata rendada, tem!
Pulseira de ouro, tem!
Tem saia engomada, tem!
Sandália enfeitada, tem!
Tem graça como ninguém
Como ela requebra bem!
Quando você se requebrar
Caia por cima de mim
O que é que a baiana tem?
Só vai no Bonfim quem tem
Um rosário de ouro
Uma bolota assim
Quem não tem balangandãs
Não vai no Bomfim
Oi, não vai no Bonfim

(O Que é que a baiana tem? - Dorival Caymmi)

No tabuleiro da baiana tem
Vatapá, oi caruru, mungunzá, tem umbu
Pra IoiôSe eu pedir você me dá
O seu coração, seu amor
De Iaiá
No coração da baiana também tem
Sedução, canjerê, candomblé, ilusão
Pra você
Juro por Deus, pelo Senhor do Bonfim
Quero você baianinha inteirinha pra mim
(Tabuleiro da baiana – Ary Barroso)

Mitologia africana: Oxum ou Osun


Osun é a força dos rios, que correm sempre adiante, levando e distribuindo pelo mundo sua água que mata a sede, seus peixes que matam a fome, e o ouro que eterniza as idéias dos homens nele materializada. Como as águas dos rios, a força de Osun vai a todos os cantos da terra. Ela dá de beber as folhas de Ossain, aos animais e plantas de Oxossi, esfria o aço forjado por Ogum, lava as feridas de Obaluaiê, compõe a luz do arco-íris de Oxumarê.Osun é por isso associada à maternidade, da mesma maneira que Yemanjá. Por sua doçura e feminilidade, por sua extrema voluptosidade advinda da água, Oxum é considerada a deusa do amor. A Vênus africana.Como acontece com as águas, nunca se pode prever o estado em que encontraremos Oxum, e também não podemos segura-la em nossas mãos. Assim, Oxum é o ardil feminino. A sedução. A deusa que seduziu a todos os orixás masculinos.Diz o mito que Oxum era a mais bela e amada filha de Oxalá. Dona de beleza e meiguice sem iguais, a todos seduzia pela graça e inteligência. Oxum era também extremamente curiosa e apaixonada por um dos orixás, quis aprender com Orunmilá, o melhor amigo do seu pai, a ver o futuro. Como o cargo de Oluô (dono do segredo) não podia ser ocupado por uma mulher, Orunmilá, já velho, recusou-se a ensinar o que sabia a Oxum.Oxum então seduziu Esú, que não pode resistir ao encanto de sua beleza e pediu-lhe que roubasse o jogo de ikin (cascas de coco de dendezeiro) de Orunmilá. Para assegurar seu empreendimento Oxum partiu para a floresta em busca das Iyami Oshorongá, as perigosas feiticeiras africanas, a fim de pedir também a elas que a ensinassem a ver o futuro. Como as Iyami desejavam provocar Esú há tempos, não ensinaram Oxum a ver o futuro, pois sabiam que Esú já havia roubado os segredos de Orunmilá, mas a fazer inúmeros feitiços em troca de que cada um deles recebessem sua parte.Tendo Esú conseguido roubar os segredos de Orunmilá, o deus da adivinhação se viu obrigado a partilhar com Oxum os segredos do oráculo e lhe entregou os dezesseis búzios com que até hoje jogam. Oxum representa, assim a sabedoria e o poder feminino. Em agradecimento a Esú, Oxum deu-lhe a honra de ser o primeiro orixá a ser louvado no jogo de búzios, e entrega a eles suas palavras para que as traga aos sacerdotes. Assim, Oxum é também a força da vidência feminina. Mais tarde Oxum encontrou Oxossi na mata e apaixonou-se por ele. A água dos rios e as florestas tiveram então um filho chamado Logun-Edé, a criança mais linda, inteligente e rica que já existiu.Apesar do seu amor por Oxossi, numa das longas ausências deste, Oxum foi seduzida pela beleza, os presentes (Oxum adora presentes) e o poder de Xangô, irmão de Oxossi, rompendo sua união com o deus da floresta e da caça. Como Xangô não aceitou Logun-Edé em seu palácio, Oxum abandonou seu filho, usando como pretexto a curiosidade do menino, que um dia foi vê-la banhar-se no rio. Oxum pretendia abandoná-lo sozinho na floresta, mas o menino se esconde sob a saia de Iansã, a deusa dos raios, que estava por perto. Oxum deu então seu filho a Iansã e partiu com Xangô tornando-se, a partir de então, sua esposa predileta e companheira cotidiana.
Dia da semana: sábado
Cores: amarelo-ouro
Número: 5
Símbolo: Abebê (espelho)
Comida: Ipetê (feijão fradinho com camarão)
Saudação: Ora ieieu, Oxum!
Folhas: oriri, colônia, folha régia.
Odu regente: oxeturamalé