sábado, 21 de novembro de 2009

Máscaras Geledés


Máscara Gelede com cinco cavaleiros, século XIX Nigéria, YorubaFigura real Chibinda Ilunga, século XIX Angola, Chokwe

"Os olhos que contemplaram Gęlędę viram o espetáculo máximo.
Ojú to ba ri Gęlędę ti de òpin ìron."

Geledé é originalmente uma forma de sociedade secreta feminina de caráter religioso existente nas sociedades tradicionais yorubás. Expressa o poder feminino sobre a fertilidade da terra, a procriação e o bem estar da comunidade.
Geledé é um festival anual homenageando "nossas mães" (awon iya wa), não tanto pela sua maternidade, mas como ancião feminino. Ela ocorre durante a época seca (março-maio) entre os Yorubas do sudoeste da Nigéria e o vizinho Benin.
A máscara (ou adorno de cabeça, uma vez que não cobrem o rosto) é um par de um conjunto usado pelos homens vestidos como mulheres mascaradas para divertir, e aplacar as mães que são consideradas muito poderosas, e podem usar os seus poderes para o bem ou como feitiçaria de efeitos destrutivos.
Geledé celebra a sabedoria das mães anciãs e mulheres entre os yorubas. O festival inclui máscara (ou adorno de cabeça, uma vez que não cobrem o rosto) usado pelos homens que vestidos como mulheres mascaradas para acalmar as mulheres mais velha da tribo. Dança e música são parte integrante da cerimônia, que utiliza elementos tradicionais da música Yoruba incluindo percussão complexa e músicas. O Gelede é precedido por uma cerimônia chamada Efe, que tem lugar na noite anterior.
Geledé surgiu provavelmente no final do século XVIII ou no início do século XIX. Pode estar associada com a mudança de uma sociedade matriarcal para uma patriarcal, mas então se poderia esperar que tenha origens mais antigas.
A cerimônia Geledé pode também ter lugar nos funerais de membros do culto ou em períodos de seca ou de outras situações graves, que se pensa ter sido trazida por feitiço maléfico.
As máscaras consistem de uma cabeça que representa um ser humano ou um animal, às vezes com uma superestrutura. Tal estrutura ou amplifica um tema presente no segmento mais baixo ou, mais frequentemente, desenvolve um tema diferente. Algumas superestruturas se apóiam diretamente na cabeça ou no penteado da máscara, outras se apóiam em plataformas retangulares ou circulares que se projetam para os lados ou se erguem acima da cabeça. Na tradição yórubà (e africana) as máscaras são esculpidas num único bloco de madeira. Algumas retratam humanos, animais e objetos.
(...) Embora existam poucas variantes no formato da máscara Geledé, seu imaginário não conhece limites. Literalmente tudo o que existe sob o sol, isto é, pertencente ao reino das “donas do mundo”, inspira os criadores destas máscaras. Elas, ao representarem yorùbás e aqueles que não o são, homens, mulheres ou animais, tornam visíveis os “filhos” das mães.
Ainda que os temas sejam virtualmente ilimitados, alguns ocorrem com maior freqüência. Classificamos as máscaras em várias categorias temáticas, reconhecendo que algumas se encaixam em mais de uma categoria. Todas apresentam algum tipo de comentário social ou espiritual – louvores, críticas ou simplesmente uma documentação de um aspecto da vida e do pensamento yorùbá. Os temas presentes nas máscaras Geledé são o reconhecimento de um papel, o ridículo e as forças cosmológicas. Em relação ao primeiro tema, vários grupos e indivíduos são honrados. As máscaras comemoram certos grupos de idade; vários papéis sociais, econômicos, políticos ou religiosos e indivíduos específicos, já falecidos. A segunda categoria lida com um imaginário humorístico ou satírico, ridicularizando elementos ou oponentes anti-sociais. A terceira categoria transmite conceitos sobre as forças que operam no cosmos yorùbá.
(...) A atividade religiosa é outra faceta da vida yorùbá honrada nas artes de Geledé. Devotos de todas as principais crenças da Iorubalândia são representados: aqueles que cultuam os orixás, seus sacerdotes e sacerdotisas, os muçulmanos e seu clero, os cristãos e seu clero. Inúmeros exemplos ilustram a amplitude e diversidade da homenagem visual aos devotos e suas crenças, pois é a sabedoria espiritual, quer decorra de fontes tradicionais yorùbá, do Islã ou do cristianismo, é que capacita os indivíduos a manipularem as forças e melhoram a qualidade de vida.”
FONTE:
DREWAL, John Henry & DREWAL, Margaret Thompson. Gęlędę. Art and female power among the Yoruba. 2.ed. Bloomington, Indiana University Press, 1990. (1983), 306 páginas, 168 ilustrações. (Traditional Arts of Africa)Tradução de passagens: Carlos Eugênio Marcondes de Moura

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