quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Terreiro comemora 100 anos com lançamento de livro didático


O Terreiro Ilê Axé Opó Afonjá, fundado em 1910 por Eugênia Anna dos Santos (Mãe Aninha), comemora um século de existência sediando encontro com secretários da educação dos municípios baianos no dia 26 de agosto, no próprio Terreiro, no bairro de São Gonçalo, em Salvador. Promovido com a parceria da Secretaria da Educação do Estado da Bahia, o encontro Ófin no Olope (Lei em Ação) traz na pauta o debate sobre a implantação da Lei nº 10.6392003, que inclui História e Cultura Afro-Brasileira como ensino obrigatório no currículo oficial das redes de educação do Brasil.
Na oportunidade, acontece o lançamento do livro didático Epé Laiyé – Terra Viva, de autoria de Maria Stella de Azevedo Santos, conhecida nacionalmente como Mãe Stella de Oxossi. A Secretaria da Educação do Estado da Bahia já adquiriu cinco mil exemplares do livro. Segundo o superintendente de Desenvolvimento da Educação Básica da Secretaria da Educação da Bahia, Nildon Pitombo, “poder contar com instrumentos pedagógicos específicos, construídos com base no resgate e na valorização da cultura ancestral dos negros e negras é muito importante para consolidarmos uma Educação pautada na democracia e no respeito às diferenças”.
O livro Epé Laiyé já vem sendo utilizado na Escola Eugênia Anna dos Santos. Municipalizada em 1998, esta escola funciona há mais de 30 anos dentro do Terreiro Ilê Axé Opó Afonjá e é uma referência nacional na implementação de leis e diretrizes que tratam da Educação para as relações étnico-raciais.
Epé Laiyé – O conteúdo do livro Epé Laiyé aborda questões sobre meio ambiente de maneira lúdica, trazendo as entidades da religiosidade afro-brasileira como personagens de uma aventura ecológica, para enfatizar a importância da preservação da natureza. De acordo com o parecer da Secretaria da Educação da Bahia, “o livro torna-se um potencial instrumento de apoio pedagógico aos professores das escolas do 1º ao 5º ano do ensino fundamental, assim como nas escolas municipais quilombolas, pela sua propriedade teórico-cultural e pela qualidade estética apresentada”.
Mãe Stella – uma das mais importantes Iyalorixás da Bahia, Mãe Stella atua tanto em sua comunidade como nas entidades representativas da tradição africana. É conhecida por recusar a ideia do Candomblé como uma seita sincrética, afirmando a sua legítima condição de religião no Brasil. Líder respeitada como referência de diálogo intercultural e inter-religioso, ao completar 80 anos de vida, em 2005, recebeu o título Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal da Bahia (Ufba). Em 2009, a Universidade do Estado da Bahia (Uneb) concedeu-lhe o mesmo título. Mãe Stella ainda é detentora das Comendas Maria Quitéria (Prefeitura de Salvador) e Ordem do Cavaleiro (Governo da Bahia). Também ganhou, em 2008, o Troféu Palmares, do Ministério da Cultura.
Encontro Ófin ni Olope
10.639: Lei em Ação Programação 26 DE AGOSTO DE 2010

9h – composição da mesa/ bênçãos da Iyalorixá Mãe Stella de Oxossi

9h20 - A Lei nº 10.639 no Estado da Bahia – Secretaria da Educação do Estado da Bahia

9h40 – A Lei nº 10.639 na Cidade de Salvador - Secretaria Municipal da Educação, Cultura, Esporte e Lazer de Salvador

10h – Intervalo/café

10h15 - Apresentação musical do Griô Dudu Rose

10h30 – Palestra: Tradição oral e escrita - Prof. Mestre Carlos Alberto Caetano

11h – Roda de diálogos: desafios para a implementação da Lei

12h – Almoço Exposição de livros ligados à cultura afro-brasileira

13h30 – Oficina Pwer-Provér

15h – intervalo/café

15h30 – Oficina Epé Laiyé

17h – encerramento com Mãe Stella.

sábado, 14 de agosto de 2010

Boa Morte : Patrimônio Imaterial da Bahia

A Festa acontece desde o século XIX e é considerada uma das maiores manifestações culturais da Bahia


A Festa da Boa Morte foi oficializada como Patrimônio Imaterial da Bahia na tarde desta sexta-feira, 25. O decreto foi assinado pelo governador da Bahia, Jacques Wagner (PT).
A festa da Boa Morte, que acontece desde 1820 no mês de agosto, mistura elementos do catolicismo e do candomblé e é considerada uma das mais importantes manifestações culturais da Bahia. A história da festa nasceu quando mulheres negras e ex-escravas se uniam para ajudar escravos a conseguir a liberdade, se reunindo em torno da fé em Nossa Senhora e criando uma confraria católica chamada Irmandade da Boa Morte.

A Festa foi incluída no Livro de Registro Especial de Eventos e Celebrações. O reconhecimento é uma salvaguarda à manifestação cultural afrocatólica, que passa a ter a proteção e o incentivo do Estado e da sociedade civil organizada.

Divulgação - Entre os benefícios diretos do tombamento da festa está a prioridade para a concessão de financiamentos públicos e privados. Segundo o diretor-geral do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural do Estado da Bahia (Ipac), Frederico Mendonça, o registro prevê a realização de ações de salvaguarda, como a publicação de um livro e um vídeo documentário sobre a festa, a elaboração do projeto de um memorial da Boa Morte e estudos para a criação de atividades que gerem renda para as mulheres envolvidas na tradição.

Antes do registro, o Ipac realizou estudos técnicos e elaborou um dossiê. O trabalho, que durou cerca de um ano, resultou no documento que foi aprovado pelo Conselho Estadual de Cultura (CEC).

Patrimônio Imaterial - A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) define como Patrimônio Cultural Imaterial "as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas - junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados - que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural"

Segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o Patrimônio Imaterial é transmitido de geração em geração e constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua integração com a natureza e de sua história, gerando um sentimento de identidade e continuidade, contribuindo assim para promover o respeito à diversidade cultural e à criatividade humana.

Bahia - Além da Festa da Irmandadade da Boa Morte, são considerados patrimônios imateriais da Bahia o ofício da baiana de acarajé, a roda de capoeira, o ofício dos mestres de capoeira, o samba de roda do Recôncavo, o carnaval de Maragogipe e a festa de Santa Bárbara. Atualmente, está em processo de reconhecimento o desfile dos afoxés no Carnaval de Salvador.

Fonte: A tarde on Line *Com informações da Agecom-BA.

Corpo e Ancestralidade




http://inaicyfalcaoraemestredidi.blogspot.com/

A maioria dos estudos conhecidos acerca da tradição africano-brasileira têm sido analisados a partir do aspecto antropológico ou da transmissão oral; a linguagem corporal e o aspecto educativo têm tido pouca consideração entre os estudiosos da área em questão.

Tenho observado e vivenciado essa situação, sobretudo na área de dança-arte-educação, no que se refere ao ensino e à formação de indivíduos brasileiros. Vejo teorias etnocêntricas continuarem bastante arraigadas disseminadas através do sistema educacional, desestruturando e diluindo a tradição africano-brasileira, impedindo com isso a formação de uma realidade plural artístico-nacional e a descoberta aprofundada e audaz na criação artística e nos métodos educacionais com raízes brasileiras.

No limite deste trabalho, resultado do meu doutorado, o que se qui realizar foi a elaboração de uma proposta na dança-arte-educação, procurando recuperar elementos estéticos e míticos presentes na tradição africano-brasileira, enquanto criação coletiva.

A experiência específica realiza-se no conhecimento teórico e prático vivenciado no universo mítico do tambor Batá, entre os Yorubá, na Nigéria, e seus descendentes no Brasil; depois, essa experiência pôde gerar a elaboração de um poema e montagem cênica Ayán: símbolo do fogo, cujo resultado ofereceu os fundamentos para a metodologia no desdobramento da vivência pedagógica pluricultural e na construção de uma identidade individual.

Inaicyra Falcão dos Santos

BIOGRAFIA

Inaicyra Falcão dos Santos

Inaicyra é cantora lírica, professora doutora, livre-docente (Saiba Mais sobre a tese de livre-docência), pesquisadora das tradições africano-brasileiras, na educação e nas artes performáticas no Departamento de Artes Corporais da Unicamp.

Graduada em Dança pela Universidade Federal da Bahia, com mestrado em Artes Teatrais pela Universidade de Ibadan na Nigéria, doutora em Educação pela USP e livre docente na área de Práticas Interpretativas Universidade Estadual de Campinas.

Frequentou cursos na área de Dança Moderna e Jazz no Studio Alvin Ailey em New York, no Laban Centre for Movement and Dance em Londres e na Schola Cantorum em Paris.

Foi intérprete em companhias de dança e teatro: Grupo de Dança Contemporânea da Universidade Federal da Bahia, Ballet Brasil Tropical (com várias turnês pela Europa e Oriente Médio), Theatre D´Ennah Paris-França e Companhia Intercultural Peter Badejo em Londres (com turnê pela Inglaterra).

Atriz e coreógrafa nos eventos da sociedade de Estudos da Cultura Negra no Brasil, SECNEB.

Realizou estudos e pesquisas na Universidade de Ifé e Ibadan na Nigéria.