sábado, 24 de abril de 2010

IV Semana da África em Salvador


Por iniciativa de estudantes africanos em Salvador e em parceria com estudantes afro-brasileiros, a Semana da África vem sendo realizada em Salvador (BA) desde maio de 2006, contabilizando três edições. O evento vem sendo acolhido pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), através do Centro de Estudos Afro-Orientais e da Pró-reitoria de Assistência Estudantil.
A idéia do evento decorre da intensa vontade de estabelecer trocas científicas entre estudantes e pensadores africanos e brasileiros. O desejo de constituir um fórum acadêmico e cultural com uma periodicidade anual para promover debates acerca de temas referentes às questões africanas e da Diáspora é o ponto fundador da Semana da África. Nesta quarta edição, a Semana pretende pensar processos de independência nos países africanos, bem como propostas que, principalmente, considerem a importância do ensino da história, culturas africanas e afro-brasileiras nas escolas e universidades do Brasil e da África.
Os encontros e debates ocorridos nas edições anteriores têm levado a comunidade de Salvador a tomar essa semana para refletir mais intensamente sobre as especificidades culturais, demandas econômicas e políticas na contemporaneidade, questionando o olhar homogêneo sob o qual o continente africano é comumente visto. Na primeira Semana da África a temática estava centrada na representação da "África no imaginário social brasileiro", trazendo para o cenário dos debates as diversidades que compõem o continente africano. Já a segunda Semana debruçou-se sobre a discussão da unidade africana, enfatizando o Papel da União Africana (UA) nas questões de geopolítica na África. Na terceira edição, o tema foi África: dinâmicas sociais, políticas e culturais na contemporaneidade, como forma de trazer para as reflexões crítico-analíticas a diversidade contemporânea dos povos africanos, a fim de propiciar o não-apagamento e o não-silenciamento da sua história.
Em 2010,a Semana da África será voltada para o processo das independências dos países africanos, que, fragmentados por séculos de colonialismo e escravidão, exigiram, através de suas lideranças, o fim da exploração externa. Um fato histórico de relevância associado a esse tema é a reunião realizada em Adis Abeba, capital etíope, no dia 25 de maio de 1963. Nessa ocasião trinta e dois chefes de Estado africanos proclamaram juntos, em uma única voz, as palavras de ordem, “liberdade, igualdade, justiça e dignidade”, para com os povos africanos. Muitas decisões políticas tomadas nesse encontro foram importantes para o que acontece na contemporaneidade, a exemplo da criação da Organização da Unidade Africana (OUA), atualmente União Africana (UA), a qual se tornou o principal bloco político a reivindicar a África para os africanos.

Programação geral

19 de maio
Reitoria da Universidade Federal da Bahia
16:00h Credenciamento
19:00h Solenidade de abertura
19:30h Conferência de abertura
África: Independências e futuros possíveis

20 a 22 de maio
Escolas públicas de Salvador
09:00h Oficinas pedagógicas - matutino
14:00h Oficinas pedagógicas - vespertino
19:00h Oficinas pedagógicas - noturno

23 de maio
Local a confirmar
16:00h Pequena mostra de cinema africano

24 de maio
Centro de Estudos Afro-Orientais
09:00h Sessões de comunicações coordenadas
11:00h Sessões de comunicações coordenadas

Instituto Anísio Teixeira
14:30h Mesa-redonda
Lei 10.639/03: reflexões de afro-brasileiros e africanos
Mesa-redonda
Políticas afirmativas no ensino superior
16:30h Mesa-redonda
Políticas de saúde, gênero e geração na África e no Brasil
Mesa-redonda
Experiências do socialismo na África: memórias de Moçambique

25 de maio
Universidade do Estado da Bahia
09:00h Sessões de comunicações coordenadas
11:00h Mesa-redonda
Geopolítica dos países africanos: o papel da União Africana
13:00h Almoço
14:30h Mesa-redonda
Água e direitos humanos na África e no Brasil
16:30h Mesa-redonda
Literatura e cinema: relações África-Brasil
19:00h Conferência de encerramento
21:00h Atividade cultural

Objetivo geral

Promover diálogos públicos sobre as relações África-Brasil, a partir da análise do processo das independências africanas.

Objetivos específicos

Refletir sobre a importância das tradições e lideranças no processo das independências;
Analisar questões geopolíticas nos países africanos e o papel da União africana;
Visibilizar a participação de mulheres e crianças no processo das independências africanas;
Avaliar as políticas de intercâmbio cultural entre Brasil e África;
Colaborar para a formação de professores para o ensino de Culturas e Histórias Africanas e Afrobrasileiras, na perspectiva da implementação da Lei 10.639/03;
Promover a integração entre estudantes e pesquisadores africanos e brasileiros.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Lançamento do livro :Pano da Costa


O pano da costa que – segundo alguns historiadores – foi o principal produto africano exportado e consumido na Bahia nos séculos 18 e 19, referência cultural para as nações da costa oeste da África e indumentária sagrada para candomblés baianos, é o principal tema da mais nova publicação do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC), órgão do Governo do Estado, vinculado à Secretaria de Cultura (Secult-BA).

O livro intitulado ‘Pano da Costa’ e ilustrado com fotos, pinturas, desenhos e gravuras, será lançado – em parceria com a Fundação Pedro Calmon (FPC) – na próxima sexta-feira, dia 23 de abril, às 17 horas, na biblioteca Manuel Querino, localizada no secular imóvel do Solar Ferrão, na rua Gregório de Mattos, número 45, no Pelourinho, em Salvador.

Na mesma ocasião, o IPAC lançará, também, o folder ‘Patrimônio Cultural da Bahia’ que, pela primeira vez na história do Estado, reúne em uma só publicação todos os bens culturais, materiais e imateriais, existentes no território baiano que estejam protegidos pelos poderes públicos estadual e federal, através de notificações, registros ou tombamentos, respectivamente, como ‘Patrimônio da Bahia’ ou ‘Patrimônio do Brasil’.

O livro ‘Pano da Costa’ traz artigos de historiadores, sociólogos e especialistas do IPAC, além de artistas plásticos e artesãos, constituindo em um importante estudo sobre a história e o método de tecelagem dessa peça têxtil, bem como num resgate histórico e homenagem ao mestre dessa arte, o baiano Abdias do Nascimento Nobre (1910-1994), nascido no bairro de Santo Antônio Além do Carmo, Centro Histórico de Salvador, e descendente de africanos.

A publicação é fruto do ‘Projeto Mestre Abdias e a Tecelagem do pano da Costa’ elaborado pelo IPAC em 1984. Ainda neste ano, foi instalado no terreiro de candomblé Ilê Axé Opô Afnjá o primeiro curso dedicado ao pano da costa, com coordenação do mestre Abdias e da sua filha e seguidora, a artesã Maria de Lourdes Nobre, ambos funcionários do IPAC. Em 1986 foi montado outro curso no mesmo terreiro e, em 1987, o IPAC sedia no seu museu Abelardo Rodrigues, no Solar Ferrão, a exposição ‘Pano da Costa’.

De acordo com o diretor geral do Instituto, Frederico Mendonça, essa é a primeira publicação da coleção ‘Cadernos do IPAC’ que reunirá trabalhos desenvolvidos pelas equipes de técnicos e especialistas da instituição. “Além de promover a preservação dos bens culturais, o IPAC tem por obrigação regimental, pesquisar e promover a produção técnica e científica com a qual trabalha e colaborar na formulação da política de educação patrimonial; com essa primeira publicação cumprimos todas essas prerrogativas”, afirma Mendonça. “O lançamento do livro é o reconhecimento da importância dos ensinamentos do mestre Abdias para a cultura baiana e a garantia do acesso à sua obra pelas próximas gerações”, destaca o diretor geral da FPC, Ubiratan Castro de Araújo.

A primeira tiragem da impressão do livro ‘Pano da Costa’ é de três mil exemplares que serão distribuídos para bibliotecas públicas estaduais através da FPC, escolas e instituições que trabalham com a temática de matriz africana e com o segmento têxtil, entre outros, além de faculdades, universidades e órgãos de preservação cultural. Com a nova publicação resgata-se um passivo de conteúdos específicos da área de patrimônio cultural que já deveriam estar sendo difundidos nos 40 anos de existência do IPAC. “Depois do ‘Pano da Costa’ já dispomos de mais quatro outras publicações que serão editadas, e a próxima será sobre o ‘Carnaval de Maragojipe’ festa popular do Recôncavo que desde o ano passado (2009) está registrada como ‘Patrimônio Cultural da Bahia’”, revela o gerente do IPAC, Mateus Torres.

BOX opcional: PANO DA COSTA - Tradicionalmente integrando o vestuário de africanas provenientes de diversas regiões desse continente, como Costa do Marfim, Gana, Nigéria, Congo, Benin e Senegal, o pano da costa tornou-se, definitivamente, parte da indumentária das crioulas – escravas negras nascidas no Brasil – que habitavam Salvador, cidades do Recôncavo baiano, Rio de Janeiro, Recife e Minas Gerais já no século 19. Registros apontam que no ano de 1875, por exemplo, somente da cidade de Lagos, na Nigéria, foram exportados cerca de 50 mil panos da costa para o Brasil e mais 130 mil de outros portos africanos também para o nosso país.

Segundo a socióloga da Gepel/IPAC, Nívea Alves, é no contexto sócio-religioso existente no Brasil daquela época que está situada a importância do pano da costa. “O saber e o fazer do pano da costa, sob a perspectiva de uma arte africana introduzida no Brasil, arte esta considerada pelos africanos como sendo a personificação de uma inteligência especial, através da qual o homem aprimora o seu ambiente, ou seja, o africano transforma materiais comuns em coisas de valor, utilizando-se do poder criativo e imaginário”, explica Nívea Alves. Para o especialista em Sociologia da UFBA e um dos autores de textos presentes no livro, Jorge da Silva Maurício, vale salientar a importância e preocupação do IPAC na publicação desse trabalho, tão rico em detalhes, com novas pesquisas sobre o tema, em defesa da preservação dos bens tangíveis e intangíveis no Brasil. “A publicação é enriquecida quando mostra dois terreiros de candomblé, o Ilê Axé Opô Afonjá e o São Jorge Filho da Goméia, oferecendo regularmente oficinas dedicadas à criação do pano da costa”, relata Silva Maurício.

Mais que um item religioso, o pano da costa tem um significado social e cultural. Usado sobre os ombros, tem como função distinguir o posicionamento feminino nas comunidades afro-brasileiras. Com cores vivas, ornado com bordados, fitinhas e rendas, ele quebra o predomínio do branco na roupa das baianas, dando mais vida e riqueza a indumentária. Os primeiros panos da costa foram importados da África, onde são denominados alakás ou panos de alaká. Chegaram, sobretudo, vestindo os corpos das escravas. No século 18 passaram a ser tecidos no Brasil por escravos e seus descendentes, tendo como um dos principais artesãos Abdias do Sacramento Nobre, mais conhecido como Mestre Abdias.

Lançamento: Dicionário de Personagens Afrobrasileiros‏


NA EFERVECÊNCIA DOS DEBATES SOBRE COTAS RACIAIS, RACISMO E RESGATE DAS CULTURAS SUBALTERNAS QUE FORMARAM O NOSSO PAÍS, SURGE UMA IMPORTANTE INICIATIVA, A CRIAÇÃO DO DICIONÁRIO DE PERSONAGENS AFRO BRASILEIROS, OBRA PARA LEVAR À COMPREENSÃO DO MODO DE EXISTÊNCIA DOS AFRO BRASILEIROS NA HISTÓRIA.


O Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem da UNEB, o Núcleo de Estudos Canadenses da UNEB e a ABECAN- Associação Brasileira de Estudos Canadenses, convidam para o lançamento do DICIONÁRIO DE PERSONAGENS AFRO BRASILEIROS, que contará com a participação de vários pesquisadores canadianistas de todo o país e da França, preocupados em debater as questões das formações culturais que emergiram nas Américas, local de confrontos entre vários povos para a emergência do chamado Novo Mundo.
O evento acontecerá no dia 6 de maio, às 18h, na Livraria LDM, Rua Direita da Piedade Salvador, Bahia.

A obra que tem a acadêmica Licia Soares de Souza como organizadora é um instrumento de trabalho docente que se alimenta na pesquisa constante em literatura brasileira. Ao mesmo tempo, ela constitui uma leitura agradável para todos aqueles que se interessam pela formação histórica do país.São 61 verbetes escritos por professores de vários estados brasileiros, África e França.


Nasceu de uma preocupação com o surgimento da Lei 10.639/03, do Parecer no.3 e 4, do Conselho Nacional de Educação (CNE) e da Resolução CNE/CP 01/2004, que instituíram a obrigatoriedade do ensino de História da África e das culturas afrobrasileiras nos currículos das escolas públicas e particulares da Educação Básica.

O projeto de Dicionário de Personagens Afro-brasileiros põe em cena as principais figuras literárias, nos séculos XX e XXI, na prosa narrativa, sobretudo, mas igualmente em algumas obras poéticas e musicais, e em contos populares e infantis.

A negritude já representa um importante paradigma para o exame de expressões artísticas que abordam temáticas relacionadas às marcas da cultura africana nas Américas. Os processos de conscientização do valor de tais marcas africanas abrem o caminho para o resgate de todo um universo cultural que sobreviveu, durante séculos, oprimido e relegado ao segundo plano.

Nessa direção, chega-se aos processos de mestiçagem aptos a mostrar que a identidade nacional não é um caminho de mão única, mas, sobretudo, uma encruzilhada para onde convergem várias formas expressivas de saberes distintos.

O papel de todos - brancos, indígenas, negros - na formação da nação é inegável.

Entretanto, pelas vicissitudes históricas, a cultura branca dominou as outras criando fendas profundas que ainda prejudicam o desenvolvimento social.

Os debates sobre essa dominação são intensos e conduzem a muito desencanto em relação a qualquer esforço de valorização das culturas oprimidas, durante séculos.

Buscar a visibilidade de uma cultura, tratada como desigual, sempre levanta discussões relativas ao uso de um racismo inverso, estimulando comportamentos parecidos com os da etnia dominante.

É como se houvesse um movimento de racismo contra o branco, empreendido por negros e índios.

No entanto, todos os esforços de mostrar o peso do negro e do índio na formação nacional só tem um objetivo: apontar para uma riqueza cultural e patrimonial, que cria uma diversidade mestiça, destinada a estampar a originalidade desse país.

Essa obra inédita começa com os afrobrasileiros, contando uma história de dor, sofrimento e opressão, mas também de amizade, com festas, danças, sensualidade, criação artística, vivência popular, utopias políticas.

Essa obra original começa homenageando os antepassados escravos dos brasileiros, e tudo que trouxeram, nessa rica transculturação, para fundar um Novo Mundo.

Na sequência do projeto de valorização de culturas oprimidas, será necessário, mais adiante, a observação e o exame de outras que tiveram a mesma importância no desenvolvimento do país.

Nesse momento, os pesquisadores da Universidade do Estado da Bahia, com o apoio da fundação de pesquisa do estado, sentem-se orgulhosos em formarem uma equipe de pesquisadores de vários estados, da França e da África, para reconhecerem a herança incontornável de um dos povos fundadores da nação.